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Situação do sector da educação em Moçambique

Situação do sector da educação em Moçambique

Moçambique demonstrou o seu compromisso em relação à educação. Aboliu as propinas escolares, forneceu apoio directo às escolas e livros escolares gratuitos no ensino primário, tendo também feito investimentos na construção de salas de aula. O sector recebe a maior quota do orçamento do Estado, mais de 15 por cento. Como resultado, registou-se um aumento significativo no número de ingressos no ensino primário ao longo da última década. No entanto, a qualidade e a melhoria da aprendizagem ficaram para trás. Também os ingressos estagnaram no ensino primário do segundo grau e secundário, apesar da maior oferta. Cerca de 1,2 milhões de crianças estão fora da escola, mais raparigas do que rapazes, particularmente na faixa etária do ensino secundário. A avaliação nacional da aprendizagem de 2013 constatou que apenas 6,3 por cento dos alunos da terceira classe possuíam competências básicas de leitura. Um inquérito do Banco Mundial de 2014 mostrou que apenas 1 por cento dos professores do ensino primário tinham os conhecimentos mínimos esperados e apenas um em cada quatro professores consegue fazer uma subtracção de quatro dígitos. O grau de absentismo dos professores é elevado (45 por cento) e dos directores é de 44 por cento. Cerca de metade dos alunos matriculados estão ausentes todos os dias. Um outro desafio enorme é a inexistência de um serviço de aprendizagem da primeira infância. Apenas cerca de 5 por cento das crianças dos 3 aos 5 anos beneficiam desse serviço e a maior parte deles estão localizados nas zonas urbanas.

Prioridades do programa 2017–2020

O novo programa está alinhado com o ODS 4 e com o UNDAF 2017–2020, com as prioridades nacionais plasmadas no Plano Quinquenal do Governo de Moçambique (2015–2019), no Plano Estratégico da Educação (2012–2016, agora prorrogado até 2019) e no Plano Operacional do Ensino Primário (2015–2018).

O programa da educação manterá os dois pilares relativamente novos de qualidade e acesso, mas ao mesmo tempo irá expandi-los incluindo uma componente de aprendizagem precoce e colocando mais ênfase no fortalecimento dos sistemas e no diálogo em áreas chave seleccionadas da aprendizagem precoce, política do professor e crianças fora da escola. O foco incidirá no ensino pré-primário e primário para dar ao sector uma fundação sólida sobre a qual toda a aprendizagem no futuro deverá assentar e manter as crianças, em particular as raparigas adolescentes, na escola até ao fim do nível primário. Será prestada particular atenção aos professores e às habilidades fundamentais, garantindo que os professores estejam na sala de aula, com competências e habilidades adequadas para ensinar a ler e a escrever.

Trajadas de uniforme, as crianças brincam à neca, saltando dentro de quadrados desenhados com giz. Estão a divertir-se tanto que até parece que estão no intervalo mas, de facto, faz parte da aula de matemática.

As crianças acabam de iniciar o primeiro ano na Escola Primária Oitava, que tem 2.798 alunos e está localizada no centro da vila industrial de Moatize, na província nortenha de Tete. A professora, Teresinha Paula, de 33 anos, convida os que não levantaram as mãos a participarem também.

Paula ensina nesta escola há cinco anos e embora o caminho que percorreu para se qualificar não tenha sido fácil, sempre quis ser professora. Paula explica como conseguiu estudar até à 6ª classe do ensino secundário, mas depois teve que fazer a 7ª à 10ª classes do curso nocturno antes de se inscrever num curso de formação de professores, com a duração de três anos. 

Desde que terminou o curso, Paula também beneficiou de formação em exercício e em 2016 aprendeu mais sobre métodos de ensino participativos de uma colega, Rosa Salenco. “Ensinou-me diferentes maneiras de conseguir que mais alunos participassem na aula; por exemplo, usando jogos quando ensino matemática e português e procurar não falar apenas em frente da turma, mas circular e fazer perguntas.”  

Após a formação em exercício, Salenco partilhou os seus conhecimentos não apenas com a Paula, mas também com os professores de outras três escolas da sua Zona de Influência Pedagógica (ZIP). As ZIP foram criadas na década de 1970 com o objectivo de facilitar a planificação de par para par e o intercâmbio pedagógico entre os professores primários.

A sua experiência faz parte de uma estratégia nacional mais ampla de formação em exercício para professores primários, desenvolvida em 2015 pelo Ministério da Educação com o apoio do UNICEF, que foi implementada pela primeira vez em 2016. 

A estratégia consiste na formação em exercício sobre métodos de ensino participativos para dois professores com experiência em todas as ZIP das escolas primárias de todo o país. Em 2016, cerca de 3.500 professores experientes foram formados directamente, 730 nas províncias alvo do UNICEF, nomeadamente Zambézia e Tete. Estes professores treinados têm partilhado os seus conhecimentos adquiridos com pares nas suas respectivas ZIP, a fim de abranger todos os professores que ensinam da 1ª à 5ª classes. Um total de 9.410 professores beneficiou destas sessões de partilha de par para par a nível das ZIP por todo o país, dos quais 2.851 eram provenientes da Zambézia e Tete. 

Salenco diz que achou a formação útil e fazia questão de partilhar com os seus pares. Um dos métodos que considerou particularmente eficaz foi a aprendizagem de par para par entre as crianças; por exemplo, ao organizar as crianças em dois círculos e pedir para que os que se encontram no círculo interior expliquem aos do círculo exterior o que aprenderam. “Ajuda-os a reflectir e lembrar o que aprenderam,” diz ela.

O director da Escola Primária Oitava, Jasse Luís Melo, afirma que já viu a diferença, particularmente nos alunos da 1ª classe. “Quando os professores usam estes métodos, as crianças mostram-se mais activas e falam com mais confiança na aula, até mesmo os que iniciaram a escola com poucos conhecimentos do português. Quando eu entro, falam muito comigo. Isto e é um bom sinal.” Porém, ele gostaria que os seus professores beneficiassem ainda mais de formação nesta metodologia. “Alguns dos meus professores têm três anos de experiência de ensino, mas outros apenas um ano. Gostaríamos que houvesse maior intercâmbio com os professores de outras províncias para a troca de experiências.”

FONTE: UNICEF